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Estresse, Resiliência e Intercultura: A visita de Papoula Petri-Romão ao Instituto de Psicologia da USP

Atualizado: 22 de out.

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Entre os dias 13 e 23 de outubro, o Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP) receberá a Papoula Petri-Romão, doutoranda do Leibniz Institute for Resilience Research (LIR), na Alemanha, pesquisadora da área neuropsicológica da resiliência e do enfrentamento ao estresse. Sua visita faz parte de uma articulação internacional em saúde mental coordenada pela EduWellTech (USP-CIETEC/IPEN) e pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social e Grupo de Pesquisa de Psicologia e Relações Étnico-raciais do IP-USP.


Audiodescrição: Cartaz vertical em tons de bege e azul escuro anuncia a “Visita Acadêmica Internacional – Quantification of Resilience & Positive Appraisal of Stressors”. À direita, foto em preto e branco de Papoula Petri-Romão, jovem de cabelo curto e óculos, com expressão serena e braços cruzados. No rodapé, aparecem os logotipos do IP-USP, LIR Mainz, Grupo de Pesquisa Psicologia e Relações Étnico-Raciais e EduWellTech (USP-CIETEC/IPEN).



Entre o cérebro e a cultura: o estilo de avaliação positiva (PAS)


A trajetória científica de Papoula Petri-Romão combina psicologia clínica, neurociência e saúde mental global. Mestre em Global Mental Health pela University of Glasgow e filha de pai brasileiro, Papoula desenvolve seu doutorado no Leibniz Institute for Resilience Research (LIR) sob orientação do Prof. Raffael Kalisch, um dos fundadores da Positive Appraisal Style Theory of Resilience (PASTOR).


Essa teoria propõe que a tendência de interpretar situações estressoras de modo realista, porém levemente positivo — chamada de Positive Appraisal Style (PAS) — atua como mecanismo proximal e modificável da resiliência.


Em artigo aprovado para publicação na Nature Communications (2025), relativo a seu trabalho de doutorado, Papoula demonstra, a partir de três grandes estudos longitudinais realizados na Alemanha e na Espanha, que o PAS prediz níveis mais baixos de sofrimento psicológico ao longo de anos e medeia/atua na mediador dos efeitos protetores de fatores sociais, como o suporte interpessoal, sobre a saúde mental. Os resultados sugerem que mudanças nesse estilo de avaliação — por meio de intervenções psicossociais ou cognitivas — podem qualificar a capacidade de enfrentamento frente a crises.


Essa abordagem se destaca por integrar dados psicométricos, neurobiológicos e comportamentais para explicar como percepções sobre o estresse modulam respostas fisiológicas e emocionais. Em vez de negar o sofrimento, propõe compreender como a forma de interpretar eventos adversos influencia trajetórias de saúde mental ao longo da vida.


Resiliência como processo coletivo



A pesquisa acompanhou mais de 2.400 trabalhadores da área da saúde na Espanha, e demonstrou que a resiliência é dinâmica e contextual — ela pode se transformar mesmo quando os sintomas de sofrimento diminuem. O estudo identificou três fatores decisivos para sustentar o equilíbrio emocional em contextos de alta pressão:

  1. Apoio entre colegas;

  2. Confiança institucional;

  3. Capacidade percebida de recuperação emocional.


Os achados reforçam que a resiliência não é apenas uma força individual, mas depende fortemente das condições sociais e organizacionais que estruturam o cotidiano. Essa visão amplia o debate sobre saúde mental ocupacional, aproximando-se de perspectivas brasileiras que enfatizam o cuidado coletivo e a responsabilidade compartilhada das instituições.

“A resiliência não se sustenta sozinha — ela precisa de vínculos, confiança e espaço para se reconstruir”, sintetiza Papoula em sua reflexão sobre o tema.

O diálogo com o Brasil: crítica e interculturalidade


Durante sua estadia em São Paulo, entre os dias 13 e 23 de outubro, Papoula pretende participar de reuniões com professores e pesquisadores dos diferentes departamentos do IP-USP (Psicologia Social e do Trabalho, Psicologia Clínica, Psicologia Experimental e Psicologia da Aprendizagem), além de ministrar o seminário apresentando dados inéditos de sua pesquisa sobre resiliência e avaliação de estressores no Deutschland Corner (Casa de Cultura Alemã) – Centro Intercultural Internacional da USP (AUCANI-USP), no dia 23 de outubro de 2025 (9h30 às 12h), na Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 310 - Bloco B, Cidade Universitária da USP, CEP 05508-020 - Butantã, São Paulo.


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“Essa visita é uma oportunidade de articular a ciência psicológica às perspectivas interculturais. Papoula traz uma base empírica robusta e, ao mesmo tempo, abertura para discutir as dimensões éticas e sociais acerca da resiliência, especialmente em contextos de desigualdade e vulnerabilidade social.”

Audiodescrição: Cartaz vertical em tons de azul e laranja anuncia o Seminário Internacional “Resiliência, Estresse e Intercultura: A Psicologia em Diálogo entre Alemanha e Brasil”, com foto de Papoula Petri-Romão, jovem de cabelos curtos e óculos, falando ao microfone. O evento ocorre em 23 de outubro de 2025, das 9h30 às 12h, no Centro Intercultural Internacional da USP (AUCANI-USP). Na base, constam os logotipos da EduWellTech, IP-USP, Grupo de Pesquisa Psicologia e Relações Étnico-Raciais e Leibniz-Institut für Resilienzforschung.



Em suas conversas preparatórias com a equipe da EduWellTech coordenada pelo Prof. Carlos Vinicius, Papoula destacou o interesse em compreender como o Brasil tem tratados conceitos como ‘resiliência’, ‘bem-estar’ e ‘saúde mental’.

“Falar de resiliência hoje exige pensar quem tem condições reais de se adaptar — e a que custo”.

Nessas trocas, busca-se discutir, na realidade brasileira, como esses conceitos psicológicos podem ser cooptados pelo discurso da produtividade e da meritocracia do neoliberalismo, responsabilizando o sujeito por suportar estruturas injustas, deslocando o foco das causas sociais de seu sofrimento, Esse debate amplia a reflexão sobre como o ambiente social, o trabalho e as desigualdades moldam o sofrimento psicológico.


Do laboratório ao campo: cooperação e diplomacia científica


A visita de Papoula integra um esforço mais amplo de cooperação científica entre o Brasil e a Alemanha, no eixo de saúde mental global e inovação psicossocial. A iniciativa faz parte do plano de internacionalização do IP-USP, em parceria com a CCInt-IP, a EduWellTech e o Deutschland Corner (AUCANI-USP), fortalecendo práticas de diplomacia científica que conectam a pesquisa de ponta à transformação social.


Além das atividades em São Paulo, Papoula participará da 55ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Psicologia (SBP), que ocorrerá entre os dias 28 e 31 de outubro, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) com o tema “A Psicologia e o compromisso com diversidade e inclusão”.


Para além de uma agenda científica, a visita de Papoula Petri-Romão representa um gesto de compromisso científico e humano, evidenciando que a resiliência não é blindagem individual, mas plasticidade relacional — um modo de reorganizar pensamentos, afetos e práticas diante do sofrimento.


Para a EduWellTech, essa visita inaugura um ciclo de diálogos internacionais, reafirmando que inovação em saúde mental requer tanto evidências empíricas quanto reflexão crítica - propósito que também orienta a rede INTERMENTAL (International Psychosocial Collaboration Platform for the Promotion of Mental Health in Higher Education), cuja missão é conectar ciência, tecnologia e humanidade em prol do bem-estar e saúde mental.

 

Realização: Instituto de Psicologia (IP-USP), Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social (IP-USP),  Grupo de Pesquisa Psicologia e Relações Étnico-Raciais (IP-USP) e EduWellTech (USP-CIETEC/IPEN), com apoio da CCInt-IP e do Deutschland Corner (AUCANI-USP).

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